Título original: The Mists of Avalon - The High Queen
Autora: Marion Zimmer Bradley
Nº de páginas: 288
Editora: Saída de Emergência
Colecção: Bang!
Sinopse
«A misteriosa Morgaine é meia-irmã de Artur e grã-sacerdotisa da brumosa Avalon, terra encantada onde o verdadeiro conhecimento é preservado para os vindouros. Para Morgaine existe um objetivo fundamental: afastar a Bretanha da nova religião que vê a mulher como portadora do pecado original. A bela rainha Gwenhwyfar jurou fidelidade ao rei Artur, o Rei Supremo, mas não consegue esquecer a paixão que sente por Lancelot, exímio cavaleiro e melhor amigo de Artur. Quando o seu dever de concebe um herdeiro para o trono falha, Gwenhwyfar convence-se de que é vítima de um castigo divino e entrega-se de corpo e alma à religião de Cristo. As hostilidades aumentam inevitavelmente entre ambas as mulheres que detém o poder em Avalon e Camelot. Conseguirá Artur conciliar dois mundos antagonistas sob os estandartes reais e resistir aos Saxões? Se Morgaine tudo fará para proteger a sua herança matriarcal e desafiar a nova religião que cresce, já Gwenhwyfar não hesitará em persuadir Artur a trair os seus juramentos…»
Opinião
Tendo terminado o volume anterior no místico cenário das ilhas de Avalon, com Morgaine no plano principal, a segunda parte desta história inicia-se também com a fascinante sacerdotisa, contudo em terrenos distantes das suas familiares terras brumosas. Depois da decisão determinada por Morgaine, o mundo em que os Druidas caminham e a antiga feitiçaria governa encontra-se num impasse fatal. Com esta grande incerteza tinha-se formado uma poderosa deixa para A Rainha Suprema, no qual aguardava saber com entusiasmo o efeitos daquilo que se sucedeu em A Senhora da Magia. Apesar de não desiludir, neste capítulo da saga pouco acontece e muito pouco se revela da situação de Avalon. Tal facto deve-se à preponderância em focar a história noutro ambiente menos mágico e muito mais realista.
Arthur cresceu e é agora o Rei Supremo da Bretanha. O livro centra-se nesta ideia para nos relatar o passado deste país, envolvendo as lutas por território há muito travadas e a supremacia de um jovem lendário que tentou unir o seu povo e unificá-lo. Assim, consegue-se um enredo mais bélico, estratégico e, acima de tudo, preenchido de intrigas. Intrigas que brotam da necessidade de alcançar o poder, um anseio comum a todas as personagens que se cruzam nesta narrativa. No entanto, o propósito de um é tão certo como o propósito do outro, de tal modo que é difícil decidir por quem torcer quando os argumentos sustentados por cada um são, no mínimo, fortes. Ainda assim, a racionalidade sobrepõe-se à incongruência. No fim, torna-se evidente quem devemos enaltecer pela sua mentalidade expandida da realidade física e espiritual da humanidade.
Aqui, o combate entre religiões ganha maior destaque. É algo que percorre toda a obra e justifica a sensação de uma batalha explodir a qualquer momento. Numa Bretanha dividida entre o Paganismo e o Cristianismo, é evidente que a coexistência das duas não é desejável pelo menos por uma das partes. Criticam-se os paradigmas de ambas, por vezes porque se vislumbra algo de errado nelas ou, no caso do Cristianismo, apenas porque existe uma intolerância à presença de outra religião cujas crenças são inaceitáveis.
Nesta luta há quem seja mais persistente e acabe por triunfar, nomeadamente Gwenhwyfar, mulher de Arthur e Rainha Suprema. Ao começar com uma inocência e fraqueza evidentes, Gwenhwyfar passa de uma doce menina para uma mulher que combate com avidez pelos seus princípios. Nota-se que a sua inocência contribui muito para a sua mentalidade. O desconhecimento de um mundo que lhe é alheio e que evita conhecer torna-a uma pessoa enclausurada nos seus pensamentos, cingida ao que lhe foi ensinado como uma verdade absoluta e imperturbável. Contudo, a sua obstinação é fulminante e inflexível, pelo que de tudo será capaz para pôr em prática os seus planos. A persuasão é a sua melhor arma, eficaz para todos os efeitos. Ainda assim, a Rainha Suprema não se consegue apartar da sua personalidade emotiva, o que lhe causa algum sofrimento indesejável. Já o Rei Supremo, Arthur, é um homem com espírito jovem lutador, pronto a defender os seus perante qualquer ameaça. Arthur é muito compassível, uma alma pura que gosta de honrar quem luta pela sua causa. Aliás, por ser tão compassível, Arthur é obrigado a incutir a si mesmo uma decisão que lhe poderá custar a paz do seu reino e comprometer a lealdade de um dos seus povos. Ao lado de Arthur surge Lancelet, seu primo, um companheiro extremamente dedicado e carinhoso que, inevitavelmente, é adorado por todos, incluindo as mulheres. Deste modo, é a causa de amores improváveis e impossíveis que o deixam impotente, provocando-lhe um extremo sofrimento. Uma vez que a história se centra na corte de Arthur, conhecem-se outras personalidades cativantes, entre as quais outros reis menores, cavaleiros e damas de corte. Quanto à maravilhosa Morgaine, existe neste livro uma ausência enorme, tendo em conta a sua influência no primeiro livro. O misticismo de Avalon que antes fascinava perde-se, recuperando-se apenas nos momentos em que Morgaine reaparece. Porém, Morgaine consegue sempre marcar a sua presença, seja por esse mesmo misticismo que lhe é inerente, seja pela mulher astuta, consciente e poderosa que é.
E, mais uma vez, retoma-se a importância da mulher enquanto ser capaz de influenciar o mundo e exercer poder numa sociedade governada pelos homens. Antes foi um pensamento divulgado através da voz activa Morgaine, agora é a própria Gwenhwyfar que almeja algo mais que a simples condição de esposa do Rei, embora não tenha coragem para partilhar abertamente esse desejo. Gera-se uma revolta no seu âmago por não poder exprimir a vontade de igualar o masculino ao feminino, no que toca à capacidade de decidir e de agir perante um povo que subestima a mulher, reduzindo-a a uma mera máquina reprodutora que permite deixar descendência. As palavras de Igraine ilustram esta sentida insignificância: Todas as lágrimas que as mulheres derramam nunca deixam marcas no mundo.
Um pormenor interessante é que, neste livro, não existe maior relevância em nenhuma personagem. Embora Gwenhwyfar ocupe grande parte de A Rainha Suprema, não é possível afirmar que exista uma ou duas personagens principais, ao contrário do que acontecia em A Senhora da Magia, onde Morgaine assumia, maioritariamente, a liderança dos acontecimentos. Entre Gwenhwyfar, Arthur, Igraine, Morgaine e por vezes Viviane, a história distribui-se equitativamente de maneira a que o enredo abranja todos eles.
É, no entanto, óbvio que não se desenvolve muito do enredo. Havendo alguns acontecimentos de certa importância e outros que captam inevitavelmente a atenção, o ritmo da escrita é moroso e acaba por não prender tanto o leitor. Ainda assim, Marion Zimmer Bradley continua com uma arte impressionante de escolher as palavras certas quando elas mais fazem sentido, apelando continuamente à emoção, tornando este livro algo verdadeiramente humano.
Para uma continuação, A Rainha Suprema consegue cumprir a sua finalidade. Não oferecendo nenhum episódio épico, introduz novas personagens bem sustentadas e deixa espaço para que o enredo cresça nos próximos capítulos. É evidente, com este volume, que esta saga se tornou algo mais que uma grande história de fantasia. Envolvendo questões políticas, religiosas e humanas, As Brumas de Avalon tem potencial para se tornar numa obra literária de referência, indicada para qualquer tipo de leitor. De facto, é com esta convicção que aguardo o próximo volume. Estou certo que, tal como este, também não irá desiludir.
Arthur cresceu e é agora o Rei Supremo da Bretanha. O livro centra-se nesta ideia para nos relatar o passado deste país, envolvendo as lutas por território há muito travadas e a supremacia de um jovem lendário que tentou unir o seu povo e unificá-lo. Assim, consegue-se um enredo mais bélico, estratégico e, acima de tudo, preenchido de intrigas. Intrigas que brotam da necessidade de alcançar o poder, um anseio comum a todas as personagens que se cruzam nesta narrativa. No entanto, o propósito de um é tão certo como o propósito do outro, de tal modo que é difícil decidir por quem torcer quando os argumentos sustentados por cada um são, no mínimo, fortes. Ainda assim, a racionalidade sobrepõe-se à incongruência. No fim, torna-se evidente quem devemos enaltecer pela sua mentalidade expandida da realidade física e espiritual da humanidade.
Aqui, o combate entre religiões ganha maior destaque. É algo que percorre toda a obra e justifica a sensação de uma batalha explodir a qualquer momento. Numa Bretanha dividida entre o Paganismo e o Cristianismo, é evidente que a coexistência das duas não é desejável pelo menos por uma das partes. Criticam-se os paradigmas de ambas, por vezes porque se vislumbra algo de errado nelas ou, no caso do Cristianismo, apenas porque existe uma intolerância à presença de outra religião cujas crenças são inaceitáveis.
Nesta luta há quem seja mais persistente e acabe por triunfar, nomeadamente Gwenhwyfar, mulher de Arthur e Rainha Suprema. Ao começar com uma inocência e fraqueza evidentes, Gwenhwyfar passa de uma doce menina para uma mulher que combate com avidez pelos seus princípios. Nota-se que a sua inocência contribui muito para a sua mentalidade. O desconhecimento de um mundo que lhe é alheio e que evita conhecer torna-a uma pessoa enclausurada nos seus pensamentos, cingida ao que lhe foi ensinado como uma verdade absoluta e imperturbável. Contudo, a sua obstinação é fulminante e inflexível, pelo que de tudo será capaz para pôr em prática os seus planos. A persuasão é a sua melhor arma, eficaz para todos os efeitos. Ainda assim, a Rainha Suprema não se consegue apartar da sua personalidade emotiva, o que lhe causa algum sofrimento indesejável. Já o Rei Supremo, Arthur, é um homem com espírito jovem lutador, pronto a defender os seus perante qualquer ameaça. Arthur é muito compassível, uma alma pura que gosta de honrar quem luta pela sua causa. Aliás, por ser tão compassível, Arthur é obrigado a incutir a si mesmo uma decisão que lhe poderá custar a paz do seu reino e comprometer a lealdade de um dos seus povos. Ao lado de Arthur surge Lancelet, seu primo, um companheiro extremamente dedicado e carinhoso que, inevitavelmente, é adorado por todos, incluindo as mulheres. Deste modo, é a causa de amores improváveis e impossíveis que o deixam impotente, provocando-lhe um extremo sofrimento. Uma vez que a história se centra na corte de Arthur, conhecem-se outras personalidades cativantes, entre as quais outros reis menores, cavaleiros e damas de corte. Quanto à maravilhosa Morgaine, existe neste livro uma ausência enorme, tendo em conta a sua influência no primeiro livro. O misticismo de Avalon que antes fascinava perde-se, recuperando-se apenas nos momentos em que Morgaine reaparece. Porém, Morgaine consegue sempre marcar a sua presença, seja por esse mesmo misticismo que lhe é inerente, seja pela mulher astuta, consciente e poderosa que é.
E, mais uma vez, retoma-se a importância da mulher enquanto ser capaz de influenciar o mundo e exercer poder numa sociedade governada pelos homens. Antes foi um pensamento divulgado através da voz activa Morgaine, agora é a própria Gwenhwyfar que almeja algo mais que a simples condição de esposa do Rei, embora não tenha coragem para partilhar abertamente esse desejo. Gera-se uma revolta no seu âmago por não poder exprimir a vontade de igualar o masculino ao feminino, no que toca à capacidade de decidir e de agir perante um povo que subestima a mulher, reduzindo-a a uma mera máquina reprodutora que permite deixar descendência. As palavras de Igraine ilustram esta sentida insignificância: Todas as lágrimas que as mulheres derramam nunca deixam marcas no mundo.
Um pormenor interessante é que, neste livro, não existe maior relevância em nenhuma personagem. Embora Gwenhwyfar ocupe grande parte de A Rainha Suprema, não é possível afirmar que exista uma ou duas personagens principais, ao contrário do que acontecia em A Senhora da Magia, onde Morgaine assumia, maioritariamente, a liderança dos acontecimentos. Entre Gwenhwyfar, Arthur, Igraine, Morgaine e por vezes Viviane, a história distribui-se equitativamente de maneira a que o enredo abranja todos eles.
É, no entanto, óbvio que não se desenvolve muito do enredo. Havendo alguns acontecimentos de certa importância e outros que captam inevitavelmente a atenção, o ritmo da escrita é moroso e acaba por não prender tanto o leitor. Ainda assim, Marion Zimmer Bradley continua com uma arte impressionante de escolher as palavras certas quando elas mais fazem sentido, apelando continuamente à emoção, tornando este livro algo verdadeiramente humano.
Para uma continuação, A Rainha Suprema consegue cumprir a sua finalidade. Não oferecendo nenhum episódio épico, introduz novas personagens bem sustentadas e deixa espaço para que o enredo cresça nos próximos capítulos. É evidente, com este volume, que esta saga se tornou algo mais que uma grande história de fantasia. Envolvendo questões políticas, religiosas e humanas, As Brumas de Avalon tem potencial para se tornar numa obra literária de referência, indicada para qualquer tipo de leitor. De facto, é com esta convicção que aguardo o próximo volume. Estou certo que, tal como este, também não irá desiludir.
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