Naguib Mahfouz, Nobel da Literatura em 1988, nasceu há 100 anos



   Naguib Mahfouz foi um homem à frente do seu tempo. Nascido no Cairo há exatamente cem anos, a 11 de dezembro de 1911, foi o primeiro escritor de língua árabe a vencer o Nobel da Literatura (1986). Muito antes das concentrações na Praça Tahir que, no início de 2011, conduziram à queda do regime de Hosni Mubarak, Mahfouz “foi escritor numa época em que as pessoas com uma caneta poderiam ser heróis. Ícones do espírito nacional”, escreveu o Washington Post após a sua morte, em 2006. Editado em Portugal pela Civilização, todos os seus livros são traduzidos directamente do Árabe pelo tradutor Badr Hassanein.


   O sétimo e o filho mais novo de uma família muçulmana devota de classe média baixa, com cinco rapazes e duas raparigas, Mahfouz foi assim batizado em homenagem ao renomado médico copta (egípcios de origem cristã) que o trouxe ao mundo, Naguib Mahfouz Paşa (1882-1974). Leitor voraz desde a infância, era filho de um funcionário público, considerado “antiquado” pelo autor, e de uma mãe que foi tema recorrente em vários dos seus livros e que o apresentou à história egípcia, levando-o regularmente aos museus do Cairo.

   Sendo considerado um dos seus maiores vultos, Naguib Mahfouz modernizou a literatura árabe. O New York Times descreveu-o como o Balzac de Egito. Publicou 34 romances, mais de 350 contos, dezenas de argumentos cinematográficos e cinco peças ao longo de uma carreira de mais de 70 anos, tendo sempre como pano de fundo a libertação, a modernidade e as desigualdades no Cairo e no Egito.

   Os seus primeiros romances abordavam o Antigo Egito. Porém, a partir de 1956, com a trilogia do Cairo (Entre os Dois Palácios, O Palácio do Desejo e O Açucareiro), publicada na íntegra pela Civilização, Mahfouz passou a abordar temáticas relacionadas com o Egito contemporâneo. Isso fez com que, logo em 1959, tenha visto um romance banido no próprio país, Os Filhos do Nosso Bairro (também em português com a chancela da Civilização). Aliás, o seu apoio – vinte anos mais tarde – ao acordo assinado pelo presidente Anwar Al Sadat com Israel, em 1979, fez com que os seus livros fossem proibidos em vários países árabes.

   Quando recebeu o Prémio Nobel da Literatura, em 1988, teve finalmente direito à dimensão universal que a sua escrita merecia. Isso não o livrou, mesmo assim, de ser apelidado “escritor delinquente” pelo Presidente da Liga Jordana de Escritores ou de ter sido ignorado por Hosni Mubarak, que recusou congratulá-lo pelo prémio. No auge da controvérsia com Salman Rushdie, expressou publicamente o seu apoio ao autor e, em 1994, enquanto saía de casa, foi esfaqueado por um fundamentalista islâmico.

   Permaneceu solteiro até aos 43 anos, por acreditar que o casamento limitaria a sua progressão enquanto escritor. Casou, finalmente, em 1954, e viveu com a mulher e duas filhas na sua cidade natal até falecer.

   “A marca duradoura de Mahfouz no mundo será seguramente uma medida da profundidade da sua convicção no poder da ficção – na capacidade de o mito e a história serem linhas orientadoras na nossa vida”, acrescentou na altura do seu desaparecimento o Washington Post. A descrição do Times Literary Supplement é igualmente certeira: “Naguib Mahfouz, o mais importante romancista egípcio e árabe da actualidade, produziu os melhores romances sobre o Cairo, os seus habitantes e a vida quotidiana”.

Alguns títulos do autor publicados pela Civilização:

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