Uma Coisa Absolutamente Incrível



Título original: An Absolutely Remarkable Thing
Autor: Hank Green
Nº de páginas: 320
Editora: Topseller

Sinopse
«Um misterioso robot aparece em Nova Iorque...
... e em São Paulo...
... e em Buenos Aires...
O que se está a passar?
São 3 horas da manhã e April May tropeça numa escultura GIGANTE; uma espécie de robot com três metros de altura e aspeto de samurai. Perante a descoberta, April faz a primeira coisa de que se lembra: filma a bizarra estátua. O vídeo é publicado no YouTube e, da noite para o dia, April torna-se famosa por ter sido a primeira no mundo a registar a existência da estátua — aquela que viria a ser parte de um conjunto de mais de 60, espalhadas por várias cidades do mundo. Pouco habituada ao estrelato e às consequências da fama viral, April torna-se internacionalmente famosa e fica associada aos robots.
Um movimento emergente desperta. As pessoas querem saber: O que são estes robots e porque existem? Quem os terá criado? E mais importante ainda: serão perigosos? April começa a sua investigação e, reunindo um grupo improvável de pessoas, tenta perceber a origem destes robots e o seu sentido neste mundo. Hank Green explora de modo magistral a forma como lidamos com o medo e o desconhecido, e como as redes sociais transformaram aquilo que entendemos por fama.
No seu fantástico romance de estreia, Hank Green revela-nos a história de uma jovem que se torna acidentalmente famosa — para logo se encontrar no epicentro de um mistério muito maior do que poderia imaginar.»

Opinião
Se, actualmente, existe algo que une as pessoas de forma instantânea e poderosa, esse algo é sem sombra de dúvidas a tecnologia. Porém, ao conseguir por um lado este papel de aproximação, por outro consegue demarcar mais fortemente a individualidade de cada um o que, ironicamente, pode ter o efeito oposto. Nesse jogo em que se tenta conciliar a identidade própria com o ideal comum, por vezes estes conceitos encontram-se e confundem-se de tal forma que se tornam num só. Esse é o caso de April May.

April é uma comum jovem de vinte e três anos que vive na cidade de Nova Iorque. Com um emprego pouco estimulante, uma vida pacata e uma relação nada consistente, April não podia prever que o encontro inesperado com uma escultura mudasse para sempre a sua existência. Utilizando as redes sociais, April partilha o recente mistério com o mundo, que reage de forma imprevisível e aliciante. April torna-se, assim, uma cara conhecida e a sua fama cresce exponencialmente, a par de uma causa que pouco a pouco atinge todos. Contudo, são muitos os dilemas que vão surgindo e que se entranham profunda e inconscientemente em April. Será que tudo é o que parece? Terá sido a sua decisão a mais correcta? Mas ainda mais importante, conseguirá realizar a tarefa a que se comprometeu sem abdicar de quem verdadeiramente é?

April é a voz deste livro e, a meu ver, o seu maior trunfo. Toda a narrativa assenta na evolução gradual da protagonista e na sua visão dos acontecimentos. De facto, a consciência da importância de April é algo que está cada vez mais presente com o decorrer da história, sendo evidente que o seu desfecho estará dependente do rumo escolhido para esta personagem. De outra forma, April faz sobressair no leitor um sentimento de ambiguidade quanto a si mesma. Em certos momentos, as suas acções são louváveis. Noutros, nem por isso. Gera-se um misto de empatia e aversão que está em tudo relacionado com a própria questão da narrativa: a perversão que a fama e, por consequência, a pressão social podem causar na essência de alguém. Quanto às restantes personagens, destacam-se Andy, Maya, Robin e Miranda, que acompanham April na desmistificação do mistério e são um contributo fundamental nesta obra.

A temática abordada é outro ponto forte deste livro. O foco na tecnologia, bem como nas questões da sexualidade, popularidade e isolamento social, gera fortes argumentos que facilmente atingem o leitor pela sua actualidade e pertinência. Desta forma, esta é uma história direccionada para todo o tipo de público, designadamente para quem acompanha o desenvolvimento do nosso tempo e compreende que há nele tanto de luz como de escuridão.

A escrita de Green é maravilhosamente simples e eficaz, fulcral para acompanhar o desenrolar do mistério. A narrativa é dotada de um bom ritmo, com constantes revelações e surpresas que impelem o leitor nesta frenética experiência e que são alvo de grande curiosidade até ao momento final.

O desfecho é, não obstante, agridoce. Inquestionavelmente surpreendente, não é de todo um final típico ou o que seria de esperar tendo em conta o progresso desta história e o caminho das suas personagens. Green consegue captar esse instante de forma acutilante, com grande impacto para quem até aqui esperava algo mais concreto. Ainda assim, não deixa de ser um desfecho com valor substancial que apela à introspecção, repleto de dúvidas que ficam por apurar - o que será certamente explorado no próximo e aguardado capítulo.

Uma Coisa Absolutamente Incrível é, assim, um trabalho contemporâneo relevante que não passará despercebido na comunidade literária. Munida de uma forte personagem e assente numa problemática global, esta obra de Hank Green pretende alertar para aquilo que o mundo realmente necessita: mais humanidade. Uma leitura fascinante que, evidentemente, recomendo.

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