Título original: The Winter Palace
Autora: Eva Stachniak
Nº de páginas: 536
Editora: Casa das Letras
Sinopse
Sinopse
«A implacável ascensão de Catarina, a Grande, vista através dos olhos da jovem espia da imperatriz na Rússia do século XVIII.
Quando Vavara, uma jovem órfã polaca, chega à ofuscante e perigosa corte da imperatriz Isabel em Sampetersburgo, é iniciada em tarefas que vão desde o espreitar pela fechadura até à arte de seduzir, aprendendo, acima de tudo, a ser silenciosa – e a escutar.
Quando Vavara, uma jovem órfã polaca, chega à ofuscante e perigosa corte da imperatriz Isabel em Sampetersburgo, é iniciada em tarefas que vão desde o espreitar pela fechadura até à arte de seduzir, aprendendo, acima de tudo, a ser silenciosa – e a escutar.
Chega, então, da Prússia Sofia, uma frágil princesa herdeira, a potencial noiva do herdeiro da imperatriz. Incumbida de a vigiar, Vavara em breve se torna sua amiga e confidente e ajuda-a a mover-se por entre as ligações ilícitas e as volúveis e traiçoeiras alianças que dominam a corte.
Mas o destino de Sofia é tornar-se a ilustre Catarina, a Grande. Serão as suas ambições mais elevadas e de longo alcance? Será que nada a deterá para conquistar o poder absoluto?»
Opinião
O tempo passa, a história constrói-se. As épocas mudam, o cenário repete-se. Os feitos dos grandes impérios são contados e recontados, enaltecendo as suas figuras soberanas e o papel decisivo que tiveram na fortificação do mundo que hoje conhecemos como tal. O que, na maioria dos casos, é da ignorância da pessoa comum é a participação crucial dos elementos anónimos, cujos nomes e origens não saltam à vista porque, no fim de contas, não foi conveniente. É, no entanto, nas mãos desses desconhecidos que se moldam os primeiros passos para o alcance de algo importante, seja isso uma guerra épica ou uma revolução vitoriosa. É de um desses intervenientes, que se atreveu a dar um pequeno passo na direcção do futuro, que trata esta história.
Ainda criança, Barbara diz adeus ao seu humilde lar na Polónia para entrar num universo completamente desconhecido. Na Rússia, torna-se Varvara, uma informadora da corte da imperatriz Isabel, corte essa que vive do aparato e da grandeza, dos bailes de máscaras e de festas sumptuosas em prol do orgulho russo. Para Varvara, a inocência torna-se a sua máscara. Uma oportunidade que surge de um acaso imprevisível altera por completo o rumo dos acontecimentos e a partir desse ponto, Varvara apercebe-se que a perspicácia e a descrição serão o seu melhor trunfo. O passado é irrelevante. O presente é a chave para o futuro.
Este livro vive das suas personagens. É Varvara a primeira a conhecermos, e pela qual nutrimos desde o início sentimentos de compaixão e favoritismo. Sendo alguém genuinamente humilde, íntegra, fiel aos seus princípios, porém consciente das implicações da situação em que se encontra, Varvara demonstra determinação em atingir os seus objectivos numa realidade que lhe é recente, onde começa a aprender o jogo e a mover-se de modo a causar as mínimas perturbações com os seus passos. Enquanto faz parte de uma teia complexa de factos e trapaças, ela própria cresce não se esquecendo de onde vem e como ali foi parar. Portanto, os seus actos são medidos com a máxima preocupação e pesando os riscos que poderão estar envolvidos. Em grande parte, a direcção das decisões de Varvara é definida quando conhece Sophie, anos depois Catarina, estabelecendo-se um grau de intimidade entre as duas como se de uma verdadeira amizade se tratasse. Contudo, é Catarina quem mais surpreende. Esta chega à Rússia espelhando a sua fragilidade e doçura, alheia das vicissitudes que ali ocorreriam. Torna-se uma mulher manipulada pelos interesses de Isabel, impotente e ausente do seu propósito. É uma surpresa quando as cartas se invertem e a mulher-sombra se torna forte, repleta de ambição, manifestando claramente uma evolução aparentemente espontânea. A verdade é um tanto ambígua, como se revela no fim do livro. Os restantes retratos são secundários, tanto para incluir figuras-tipo como para fazer estabelecer meios de comunicação entre Varvara e Catarina. Isabel, a imperatriz, é uma figura histórica irrepreensivelmente autoritária, segura de si, porém um tanto influenciável quando tocada pelas palavras certas. Quanto a Pedro, seu sobrinho e herdeiro, é alguém completamente mimado e mesquinho, fraco de mente e de corpo. É, no entanto, alvo de boas risotas nos apartes, mas também um obstáculo a Catarina. Entre as restantes personagens, existem neste romance um leque vastíssimo de condes, duques, príncipes e princesas, soldados, embaixadores, criadas e artífices que compõe uma corte recheada de vidas por contar e por explorar, conferindo à obra a magistralidade que um bom romance de época deve conter.
Neste último aspecto, a autora não se conteve em detalhes e artifícios para exaltar a exuberância e magnitude de uma Rússia czarista, onde a aristocracia detinha a palavra principal e o espólio de toda a nação. Há descrições de palácios profusamente decorados a ouro e a luz e de jardins elegantes onde reinavam as paletes de cores vivas. A narração prima pelo deslumbramento e pelo encanto que se compõe aos olhos de um dos maiores impérios mundiais de todos os tempos.
Sendo este um grande ponto a favor da narração, outro igualmente importante é o esquema de intrigas que aqui é particularmente complexo e interessante. As várias reviravoltas que se sucedem provêm de conversas escutadas, de cartas revistadas ou até mesmo de um olhar que não foi capaz de esconder o seu nervosismo. Daqui, retira-se a conclusão irrevogável que a ética nunca foi um princípio fundamental dos reinados, antes uma máscara para o que realmente se fazia quando se estava no poder. Os interesses próprios eram o motor de todo o sistema, sendo no entanto necessário manter as aparências - o que, efectivamente, requeria trabalho. Era, portanto, necessário construir uma farsa sólida e sem pontas soltas, algo que apenas a perspicácia de alguns permitia. Há que pensar em acções e pessoas, calculando o que mais pesa.
De notar o rigor histórico apresentado, trabalho que acredito estar inquestionavelmente bem elaborado pela autora, tendo a mesma revelado nos seus agradecimentos a extensa pesquisa que efectuou. Seguindo um ritmo cronológico, a acção desenrola-se de modo coerente, introduzindo as personagens nos episódios certos e estabelecendo a relevância de cada uma na trama. Entre o veracidade dos factos, não esquecer que decerto houve espaço para ficção, nomeadamente no que diz respeito às personagens. O que é importante perceber é o grau em que cada uma se insere na sociedade, e desse modo o retrato fica completo e quase idêntico ao que se viveu no século XVIII naquele que é um país de requinte, mas também de muitos contratempos.
Acima de tudo um relato sobre a verdade e o seu significado num contexto que prima pela sua ausência, O Palácio de Inverno concebe uma perfeita harmonia entre história e ficção para oferecer uma imagem crua e minuciosamente embelezada da gélida e soberba Rússia, no seu apogeu materialista e declínio moral. Uma leitura que nos conduz pelas sementes que germinaram em força e se reproduziram numa das dinastias mais enaltecidas de toda a humanidade, contudo focando a presença de quem nos bastidores, ao regar a flor pretendida, permitiu que esta desabrochasse com maior imponência que todas as outras.
Este livro vive das suas personagens. É Varvara a primeira a conhecermos, e pela qual nutrimos desde o início sentimentos de compaixão e favoritismo. Sendo alguém genuinamente humilde, íntegra, fiel aos seus princípios, porém consciente das implicações da situação em que se encontra, Varvara demonstra determinação em atingir os seus objectivos numa realidade que lhe é recente, onde começa a aprender o jogo e a mover-se de modo a causar as mínimas perturbações com os seus passos. Enquanto faz parte de uma teia complexa de factos e trapaças, ela própria cresce não se esquecendo de onde vem e como ali foi parar. Portanto, os seus actos são medidos com a máxima preocupação e pesando os riscos que poderão estar envolvidos. Em grande parte, a direcção das decisões de Varvara é definida quando conhece Sophie, anos depois Catarina, estabelecendo-se um grau de intimidade entre as duas como se de uma verdadeira amizade se tratasse. Contudo, é Catarina quem mais surpreende. Esta chega à Rússia espelhando a sua fragilidade e doçura, alheia das vicissitudes que ali ocorreriam. Torna-se uma mulher manipulada pelos interesses de Isabel, impotente e ausente do seu propósito. É uma surpresa quando as cartas se invertem e a mulher-sombra se torna forte, repleta de ambição, manifestando claramente uma evolução aparentemente espontânea. A verdade é um tanto ambígua, como se revela no fim do livro. Os restantes retratos são secundários, tanto para incluir figuras-tipo como para fazer estabelecer meios de comunicação entre Varvara e Catarina. Isabel, a imperatriz, é uma figura histórica irrepreensivelmente autoritária, segura de si, porém um tanto influenciável quando tocada pelas palavras certas. Quanto a Pedro, seu sobrinho e herdeiro, é alguém completamente mimado e mesquinho, fraco de mente e de corpo. É, no entanto, alvo de boas risotas nos apartes, mas também um obstáculo a Catarina. Entre as restantes personagens, existem neste romance um leque vastíssimo de condes, duques, príncipes e princesas, soldados, embaixadores, criadas e artífices que compõe uma corte recheada de vidas por contar e por explorar, conferindo à obra a magistralidade que um bom romance de época deve conter.
Neste último aspecto, a autora não se conteve em detalhes e artifícios para exaltar a exuberância e magnitude de uma Rússia czarista, onde a aristocracia detinha a palavra principal e o espólio de toda a nação. Há descrições de palácios profusamente decorados a ouro e a luz e de jardins elegantes onde reinavam as paletes de cores vivas. A narração prima pelo deslumbramento e pelo encanto que se compõe aos olhos de um dos maiores impérios mundiais de todos os tempos.
Sendo este um grande ponto a favor da narração, outro igualmente importante é o esquema de intrigas que aqui é particularmente complexo e interessante. As várias reviravoltas que se sucedem provêm de conversas escutadas, de cartas revistadas ou até mesmo de um olhar que não foi capaz de esconder o seu nervosismo. Daqui, retira-se a conclusão irrevogável que a ética nunca foi um princípio fundamental dos reinados, antes uma máscara para o que realmente se fazia quando se estava no poder. Os interesses próprios eram o motor de todo o sistema, sendo no entanto necessário manter as aparências - o que, efectivamente, requeria trabalho. Era, portanto, necessário construir uma farsa sólida e sem pontas soltas, algo que apenas a perspicácia de alguns permitia. Há que pensar em acções e pessoas, calculando o que mais pesa.
De notar o rigor histórico apresentado, trabalho que acredito estar inquestionavelmente bem elaborado pela autora, tendo a mesma revelado nos seus agradecimentos a extensa pesquisa que efectuou. Seguindo um ritmo cronológico, a acção desenrola-se de modo coerente, introduzindo as personagens nos episódios certos e estabelecendo a relevância de cada uma na trama. Entre o veracidade dos factos, não esquecer que decerto houve espaço para ficção, nomeadamente no que diz respeito às personagens. O que é importante perceber é o grau em que cada uma se insere na sociedade, e desse modo o retrato fica completo e quase idêntico ao que se viveu no século XVIII naquele que é um país de requinte, mas também de muitos contratempos.
Acima de tudo um relato sobre a verdade e o seu significado num contexto que prima pela sua ausência, O Palácio de Inverno concebe uma perfeita harmonia entre história e ficção para oferecer uma imagem crua e minuciosamente embelezada da gélida e soberba Rússia, no seu apogeu materialista e declínio moral. Uma leitura que nos conduz pelas sementes que germinaram em força e se reproduziram numa das dinastias mais enaltecidas de toda a humanidade, contudo focando a presença de quem nos bastidores, ao regar a flor pretendida, permitiu que esta desabrochasse com maior imponência que todas as outras.
Olá!
ResponderEliminarJá estou há muito tempo com este livro na mira. Tinha a ideia de ser uma boa história.
Agora fiquei agora mais entusiasmada.
Boas leituras!
Olá, Isaura
ResponderEliminarÉ, de facto, uma boa história que remonta à própria história. Está muito bem construída, sem ter um conteúdo de factos excessivo que poderia aborrecer. O ritmo é cadenciado, impelindo a leitura, e há sempre algo de interessante. Dito isto, é claro que aconselho!
Estou ansioso por que seja lançado em Portugal o próximo, que será narrada sob a perspectiva da imperatriz.
Obrigado e boas leituras!
Uma opinião muito bem construída!
ResponderEliminarSegui.
Deixo aqui o meu primeiro passatempo caso pretenda participar.
http://diasporadossentidos.blogspot.com/2015/01/1-sorteio-diaspora-dos-sentidos-o-velho.html
Olá, Pedro
ResponderEliminarMuito obrigado pelo seu comentário e pela sua visita ao Refém das Letras.
Irei passar pelo seu blogue assim que puder, parabéns pela iniciativa!
Boas leituras!