O Herói das Eras - Parte I


Título original: The Hero of Ages
Autor: Brandon Sanderson
Nº de páginas: 432
Editora: Saída de Emergência
Colecção: Bang!

Sinopse
«Quem é o Herói das Eras?
Para pôr fim ao Império Final e restaurar a harmonia e a liberdade, Vin matou o Senhor Soberano. Mas, infelizmente, isso não significou que o equilíbrio fosse restituído às terras de Luthadel. A sombra simplesmente tomou outras formas, e a Humanidade parece amaldiçoada para sempre.
O poder divino escondido no mítico Poço da Ascensão foi libertado após Elend e Vin terem sido ludibriados. As correntes que aprisionavam essa força destrutiva foram quebradas e as brumas, agora mais do que nunca, envolvem o mundo, assassinando pessoas na escuridão. Cinzas caem constantemente do céu e terramotos brutais abalam o mundo. O espírito maléfico libertado infiltra-se subtilmente no exército do Imperador Elend e os seus oponentes. Cabe à alomante Vin e a Elend descobrir uma forma de o destruir e assim salvar o mundo. Que escolhas irão ser ambos forçados a tomar para sobreviver?»

Opinião
As forças que fizeram cair Luthadel colocaram Vin e Elend numa frágil posição estratégica. Os planos, tecidos tendo em conta um objectivo concreto para o futuro do Império, vacilaram perante a assombrosa e inesperada revelação, patente no desfecho d' O Poço da Ascensão. Com os trunfos a tornar-se fraquezas e as esperanças a desvanecer a cada novo amanhecer, o grupo de resistência ao regime do Senhor Soberano necessita cada vez mais de fortes aliados e de ferramentas que permitam, sem saber como, atingir a estabilidade de um mundo em que o mistério se adensa e poderes ocultos, que inebriam e destroem, gradualmente se revelam. 

Nesta primeira parte d' O Herói das Eras, os protagonistas, Vin e Elend, sofrem alterações consideráveis enquanto personagens. Vin, que continuamente atinge um novo grau de maturidade, fica aqui verdadeiramente consciente da sua situação enquanto mulher adulta e ferramenta do império. No entanto, o dilema agora assenta precisamente nesta dualidade: conseguirá abarcar as duas posições simultaneamente sem comprometer uma delas? Mais uma vez, Sanderson, através dos olhos de Vin, projecta o leitor para um universo imersivo, tendo sido através de Vin que deu inicialmente a conhecer os esplendores do mundo da alomância, da sociedade corrupta e suas hipocrisias e da resiliência humana, resultante de um passado brutal e atroz. Quanto a Elend, é aqui que observamos a sua drástica transformação. Após os eventos d' O Poço da Ascensão, Elend volta a renovar-se a si mesmo, atingindo o expoente da sua virtude e carácter. Juntos, Vin e Elend formam uma dupla consistente em procura de respostas, sendo a sua relação alimentada pela imprevisibilidade e pelo fatalismo dos dias que vivem. A presença de outras personagens é também fundamental, tais como Sazed, o terrisano metamorfoseado pela guerra e pelo abalo das suas crenças profundas, TenSoon, o kandra que ainda tem muito por revelar e Susto, com um papel da maior importância nesta fase dos acontecimentos. Todas as restantes personagens contribuem para a perpetuação do ambiente presente nos volumes anteriores e para a solidificação das suas relações. Não obstante, é notória a diminuição das figuras intervenientes neste livro - o que intensifica a sensação de que o fim está cada vez mais próximo.

Se, por um lado, são menos os intervenientes que antes conhecíamos, outros tomam o seu lugar e aparecem sob diversas formas. Há uma força omnipresente que ameaça ruir o que resta do Império e trazer com ela um mal cuja dimensão aparenta ser colossal. As brumas ganham cada vez mais destaque e torna-se evidente que existe algo por detrás da sua acção, sendo por isso fundamental compreendê-las - um dos aspectos que aguardo com entusiasmo ver desvendado no próximo e último livro. Adquire-se também um panorama mais vasto do império e daqueles que habitam em vários locais fora da grande Luthadel, sendo no entanto evidente que a calamidade é transversal a tudo e todos.

O autor entra em maior detalhe na vertente fantástica que é, a meu ver, o ponto mais forte do livro. Tendo introduzido primeiramente a alomância, depois a feruquimia, Sanderson entra com uma nova carta para o jogo: a hemalurgia. Completa assim (ou talvez não) uma tríade de poderes alusivos à relação entre metais e capacidades humanas que perfazem uma esplêndida metáfora pessoal e revestem esta obra de uma deliciosa complexidade. É enorme o detalhe e a mestria com que Sanderson brinca com estes conceitos e nos faz imaginar uma realidade que, embora fantasiada, é credível. 

A escrita é mais uma vez brilhante. O ritmo é mais célere que o do livro anterior, motivado pela constante necessidade de aquisição de esclarecimentos e de evolução das personagens. Existem não somente as perspectivas de Vin ou de Elend, mas vários focos narrativos em volta de outras figuras, o que me agradou num livro em que a tendência aparentava recair apenas sobre os dois protagonistas.

No fundo, O Herói das Eras - Parte I é um presságio para o culminar dos grandes acontecimentos que ditarão o destino do que foi outrora o Império Final. É a tomada de consciência de que algo muito maior está em decurso e que qualquer acto será decisivo para que o amanhã seja possível. Com personagens muito fortes, um enredo aliciante e uma abismal quantidade de questões por responder, Sanderson impele assim o leitor para aquilo que será, decerto, um final de saga magnífico com vários elementos surpreendentes.

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