Rei dos Espinhos



Título original: King of Thorns
Autor: Mark Lawrence
Nº de páginas: 416
Editora: 20|20 Editora
Chancela: Topseller

Sinopse
«O Príncipe Jorg Ancrath jurou vingar a morte da mãe e do irmão, brutalmente assassinados quando ele tinha apenas 9 anos. Jorg cresce na ânsia de saciar o seu desejo de vingança e de poder, e, ao fim de quatro anos, cumpre a promessa que fez - mata o assassino, o Conde de Renar, e toma-lhe o trono. Aos 18 anos, Jorg luta agora por manter o seu reino, e prepara-se para enfrentar o inimigo poderoso que avança em direção ao seu castelo. 
Jorg sempre conquistou os seus objetivos matando, mutilando e destruindo sem hesitar, e agora não pretende vencer a batalha de forma justa, mas sim recorrendo aos mais terríveis segredos.»

Opinião
Jorg continua a sua luta pela conquista do império após ter marcado a sua posição em Príncipe dos Espinhos. O rapaz cresce, bem como a sede de vingança pelos eventos trágicos do passado. Enquanto novos tormentos ameaçam destabilizar os seus objectivos, as memórias viajam através de caminhos misteriosos e ganham vida sob a forma de visões e sussurros, impedindo e confundindo Jorg. Com tudo isto a acontecer, é cada vez mais incerta a vitória. Não obstante, é certo que cada vez há menos a perder.

Rei dos Espinhos distingue-se pela exploração da sua personagem central, Jorg. Numa dualidade entre o passado e o presente, a personalidade de Jorg é esmiuçada e confrontada com as possibilidades da sua evolução. Os seus traços sádicos, egoístas, ambiciosos e implacáveis já eram conhecidos do leitor. Ainda assim, neste volume Jorg consegue superar as expectativas e tornar-se num vilão/herói com forte presença, surpreendendo a cada instante tanto com o seu discurso omnipresente como com as acções instintivas. No que toca às restantes personagens, estas são meros fragmentos que suportam o foco em Jorg e que coabitam no seu imaginário e existência, auxiliando ou travando o seu percurso. Acima de tudo, esta saga mostrou, até agora, ser uma história de um protagonista construído com solidez e gradual crescimento.

Como narrativa, há que salientar o carácter mais descritivo deste volume que, portanto, oferece um ritmo lento e mais cadenciado que o livro anterior. Se, por um lado, existe espaço e tempo para aprimorar a consistência de Jorg, por outro essa queda de ritmo torna os momentos de acção menos constantes. É, ainda assim, uma leitura interessante e cativante, rica em elementos que surpreendem.

No que toca ao conteúdo fantástico, tal como em Príncipe dos Espinhos, penso que poderia haver um maior ênfase, sendo que por vezes existe uma falta de base criativa que o sustente. O autor, de certa forma, cruza o fantástico com o real num processo que é dinâmico e espontâneo, conferindo maior credibilidade. Não obstante, paira a sensação de insatisfação que é justificada pelo enorme potencial que a obra demonstra ter e que aqui não é totalmente alcançado.

Finalmente, é de destacar a prosa de Lawrence que, com o seu rigor, estilo e tom metafórico torna a leitura mais completa, sobretudo no que toca à personagem de Jorg e que permite uma melhor compreensão da dimensão que esta figura tem perante o leitor. Lawrence é, sem dúvida, um autor de grande qualidade literária.

Em resumo, Rei dos Espinhos é a confirmação de um excelente autor com uma boa obra, destacando-se principalmente pela exploração de um protagonista e das suas percepções acerca do universo que o envolve. A nível temático, o fantástico peca por defeito, havendo contudo espaço para pesquisa no próximo e final livro. Com uma narrativa cativante e pungente, Lawrence consegue um bom momento literário de sentimentos ambíguos, não fosse Jorg um puro duelo interior entre passado e presente, mágoa e orgulho, beleza e ódio.

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