Título original: The Silmarillion
Autor: J. R. R. Tolkien
Nº de páginas: 392
Editora: Publicações Europa-América
Colecção: Obras de J. R. R. Tolkien
Sinopse
«O Silmarillion é um relato dos Tempos Antigos ou da Primeira Era do Mundo.
Em O Senhor dos Anéis foram narrados os grandes acontecimentos do fim da Terceira Era; em O Silmarillion as histórias provêm de um passado muito mais remoto, quando Morgoth, o primeiro Senhor das Trevas, habitou a Terra Média e os Elfos Superiores o guerrearam para recuperarem os Silmarils.
O Silmarillion é o produto da fabulosa imaginação do seu autor. É uma obra em que estão presentes, sob a forma do mito e da lenda, os conflitos entre o desejo de dominar o mundo e o poder criativo que provém do desenvolvimento dos valores intrínsecos.»
Opinião
Opinião
Considerada por muitos o épico da fantasia e uma referência ímpar na literatura, a obra de Tolkien é um trabalho deveras notável no seu género, quer pela sua consistente qualidade, quer pelo fascínio que exerce nos seus leitores. Na verdade, é com O Silmarillion que se alcança a total genialidade de Tolkien e do mundo que brota da sua imaginação, naquilo que é mais propriamente uma extensa colecção de manuscritos do que um romance. Num relato dividido em cinco partes - Ainulindalë, a origem da Terra; Valaquenta, a história dos Valar; Quenta Silmarillion, a parte mais longa que retrata a criação dos Silmarils e as guerras travadas nesse tempo; Akallabêth, a história da Segunda Era com a origem de Númenor e a sua consequente queda; e, finalmente, Dos Anéis do Poder e da Terceira Era, que narra os eventos da Terra Média precedentes a O Hobbit e O Senhor dos Anéis - descreve-se tudo aquilo que é estritamente necessário para conhecer este universo altamente complexo e repleto de peculiaridades assombrosas.
É com o momento da criação e da origem de todas as coisas que se inicia O Silmarillion. Através da música surge o Universo, pela vontade de Eru, o Único, sob a arte dos Ainur, seus filhos. Uma música preenchida por vários tons, que a certo momento se torna dissonante alterando para sempre o destino de Arda, a Terra. Este é o ponto de partida da incerteza do futuro e dos caminhos que os Ainur terão que tomar para proteger a sua obra ainda por concluir. Num tom profético, incrivelmente bíblico, decorre a narrativa da origem da vida sob as suas várias formas e dos eventos que conduzem ao fim das coisas e ao seu renascimento numa nova Era.
Tolkien revela-se um mestre de histórias com o conteúdo desta obra. A mitologia inerente e a multiplicidade de personagens, cenários e detalhes existentes é abismal, por vezes esmagadora. Valar, Maiar, Elfos, Anões e Homens são os seres que habitam na Terra dotados da sua própria identidade. Se ao início existia união entre eles, depressa os conflitos surgem forjando divisões por vezes incontornáveis e que ficam eternamente gravadas na memória dos imortais. O que é brilhante e se torna cada vez mais intrincado com o decorrer da obra é precisamente a organização das personagens, com vários nomes em cada língua, múltiplas linhagens e relações entre elas. O extenso apêndice do livro é prova desta complexidade e uma ajuda fundamental para guiar a leitura, juntamente com alguns mapas que orientam a viagem pela Terra Média. Deste enorme role de personagens algumas delas ganham destaque, quer através dos seus feitos, quer pelo papel que desempenham noutras partes da obra de Tolkien, nomeadamente Fëanor, Melkor, Sauron, Húrin, Túrin, Beren, Lúthien, Galadriel, Elrond, Gandalf e ainda os Dúnedain.
Desta forma, torna-se evidente que esta não é, de todo, uma leitura fácil. A narrativa é extremamente densa e em várias ocasiões perde-se o ritmo numa tentativa de a interpretar e absorver. Ainda assim, isto não significa que seja um livro aborrecido. Pelo contrário, O Silmarillion é dos livros mais interessantes e originais que tive o prazer de ler. Apresenta, porém, um estilo particularmente descritivo e uma linguagem complexa que levam o seu tempo a digerir.
Na minha opinião, a Quenta Silmarillion é o melhor capítulo dos cinco e aquele que sustenta a essência da história, pois é aqui que surgem as grandes discórdias entre raças e o mal se principia nos Homens. É também onde se adquire grande parte do conhecimento da Terra Média e dos acontecimentos do passado que justificam, de certa forma, os eventos da Terceira Era. Nele, a visão de Tolkien germina sem limites, provocando no leitor um encantamento e um deslumbramento incríveis.
Por entre batalhas sangrentas, transformação de reinos e surgimento de alianças entre os povos, manifestam-se os mais elevados valores, e também os mais terríveis. Amor, ódio, vingança, dor, ganância, amizade, perdão, redenção, toda uma panóplia de características que humanizam esta obra e os seus intervenientes. Afinal, esta é a história de um universo singular, das suas civilizações e dos seus domínios, que percorre as eras nos seus momentos de glória e de fracasso através do olhar crítico e omnipresente do seu mestre. É, assim, uma analogia à nossa própria história, ao que nos move enquanto pessoas e faz de nós criaturas imperfeitas em eterna construção.
Concluindo, O Silmarillion é uma obra de inigualável qualidade, brilhante em todas as suas vertentes e, inequivocamente, das melhores alguma vez escritas. Da sua complexidade emerge a simplicidade e a pureza da vida que, quando impregnada da dose certa de imaginação, ganha outra riqueza e novos tons por descobrir. Uma leitura excelente, para revisitar sempre que surja o desejo de escapar à realidade.
É com o momento da criação e da origem de todas as coisas que se inicia O Silmarillion. Através da música surge o Universo, pela vontade de Eru, o Único, sob a arte dos Ainur, seus filhos. Uma música preenchida por vários tons, que a certo momento se torna dissonante alterando para sempre o destino de Arda, a Terra. Este é o ponto de partida da incerteza do futuro e dos caminhos que os Ainur terão que tomar para proteger a sua obra ainda por concluir. Num tom profético, incrivelmente bíblico, decorre a narrativa da origem da vida sob as suas várias formas e dos eventos que conduzem ao fim das coisas e ao seu renascimento numa nova Era.
Tolkien revela-se um mestre de histórias com o conteúdo desta obra. A mitologia inerente e a multiplicidade de personagens, cenários e detalhes existentes é abismal, por vezes esmagadora. Valar, Maiar, Elfos, Anões e Homens são os seres que habitam na Terra dotados da sua própria identidade. Se ao início existia união entre eles, depressa os conflitos surgem forjando divisões por vezes incontornáveis e que ficam eternamente gravadas na memória dos imortais. O que é brilhante e se torna cada vez mais intrincado com o decorrer da obra é precisamente a organização das personagens, com vários nomes em cada língua, múltiplas linhagens e relações entre elas. O extenso apêndice do livro é prova desta complexidade e uma ajuda fundamental para guiar a leitura, juntamente com alguns mapas que orientam a viagem pela Terra Média. Deste enorme role de personagens algumas delas ganham destaque, quer através dos seus feitos, quer pelo papel que desempenham noutras partes da obra de Tolkien, nomeadamente Fëanor, Melkor, Sauron, Húrin, Túrin, Beren, Lúthien, Galadriel, Elrond, Gandalf e ainda os Dúnedain.
Desta forma, torna-se evidente que esta não é, de todo, uma leitura fácil. A narrativa é extremamente densa e em várias ocasiões perde-se o ritmo numa tentativa de a interpretar e absorver. Ainda assim, isto não significa que seja um livro aborrecido. Pelo contrário, O Silmarillion é dos livros mais interessantes e originais que tive o prazer de ler. Apresenta, porém, um estilo particularmente descritivo e uma linguagem complexa que levam o seu tempo a digerir.
Na minha opinião, a Quenta Silmarillion é o melhor capítulo dos cinco e aquele que sustenta a essência da história, pois é aqui que surgem as grandes discórdias entre raças e o mal se principia nos Homens. É também onde se adquire grande parte do conhecimento da Terra Média e dos acontecimentos do passado que justificam, de certa forma, os eventos da Terceira Era. Nele, a visão de Tolkien germina sem limites, provocando no leitor um encantamento e um deslumbramento incríveis.
Por entre batalhas sangrentas, transformação de reinos e surgimento de alianças entre os povos, manifestam-se os mais elevados valores, e também os mais terríveis. Amor, ódio, vingança, dor, ganância, amizade, perdão, redenção, toda uma panóplia de características que humanizam esta obra e os seus intervenientes. Afinal, esta é a história de um universo singular, das suas civilizações e dos seus domínios, que percorre as eras nos seus momentos de glória e de fracasso através do olhar crítico e omnipresente do seu mestre. É, assim, uma analogia à nossa própria história, ao que nos move enquanto pessoas e faz de nós criaturas imperfeitas em eterna construção.
Concluindo, O Silmarillion é uma obra de inigualável qualidade, brilhante em todas as suas vertentes e, inequivocamente, das melhores alguma vez escritas. Da sua complexidade emerge a simplicidade e a pureza da vida que, quando impregnada da dose certa de imaginação, ganha outra riqueza e novos tons por descobrir. Uma leitura excelente, para revisitar sempre que surja o desejo de escapar à realidade.
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