Título original: Der Arzt von Stalingrad
Autor: Heinz Konsalik
Nº de páginas: 312
Editora: Bertrand Editora
Sinopse
«Quando aquele médico voltou da Rússia, onde estivera como prisioneiro de guerra, algo quase inexplicável aconteceu: um homem que não falava de si, que não tinha outro desejo senão o de voltar à sua profissão, via, de repente, o seu nome pronunciado por toda a gente.
A notícia chegara à Alemanha há já algum tempo e rapidamente se espalhara: um médico que se havia sacrificado pelos seus companheiros dos campos de concentração, um homem de quem jamais se ouvira falar, estava agora de regresso à pátria...
Através do relato das suas incríveis operações, ajudou milhares de outros homens, desconhecidos, que se recompuseram moral e espiritualmente ante o exemplo que lhes era dado, reencontrando a fé e a esperança necessárias para suportar as privações e a solidão na longínqua Rússia. E o exemplo serviu tanto os necessitados como outros médicos, que se sentiram estimulados a seguir o mesmo caminho de abnegação e devoção ao próximo.
O horror da guerra, a vastidão da estepe russa, o silêncio da morte, tais são os temas dominantes de O Médico de Estalinegrado que mereceu de um prisioneiro o seguinte comentário: "Para nós, que estivemos em Karaganda, na Sibéria Central, este é o melhor livro até hoje escrito sobre prisioneiros de guerra."»
«Quando aquele médico voltou da Rússia, onde estivera como prisioneiro de guerra, algo quase inexplicável aconteceu: um homem que não falava de si, que não tinha outro desejo senão o de voltar à sua profissão, via, de repente, o seu nome pronunciado por toda a gente.
A notícia chegara à Alemanha há já algum tempo e rapidamente se espalhara: um médico que se havia sacrificado pelos seus companheiros dos campos de concentração, um homem de quem jamais se ouvira falar, estava agora de regresso à pátria...
Através do relato das suas incríveis operações, ajudou milhares de outros homens, desconhecidos, que se recompuseram moral e espiritualmente ante o exemplo que lhes era dado, reencontrando a fé e a esperança necessárias para suportar as privações e a solidão na longínqua Rússia. E o exemplo serviu tanto os necessitados como outros médicos, que se sentiram estimulados a seguir o mesmo caminho de abnegação e devoção ao próximo.
O horror da guerra, a vastidão da estepe russa, o silêncio da morte, tais são os temas dominantes de O Médico de Estalinegrado que mereceu de um prisioneiro o seguinte comentário: "Para nós, que estivemos em Karaganda, na Sibéria Central, este é o melhor livro até hoje escrito sobre prisioneiros de guerra."»
Opinião
De todos os conflitos que a humanidade enfrentou na sua longa história, certamente a Segunda Guerra Mundial foi o mais devastador, quer pela sua proximidade com a actualidade com repercussões ainda gritantes, quer pelo incontável número de pessoas cuja vida foi frustrada da pior forma. Com o culminar deste período iniciaram-se outros tempos, não mais fáceis, tendo em vista a tão desejada e necessária paz. Não obstante, a paz não passa de um estado utópico na perspectiva universal e, portanto, praticamente inatingível. Para muitos, as provações terminaram. Para alguns, continuaram. E para outros, foi apenas o início do sofrimento.
O Médico de Estalinegrado foca-se nesse momento posterior à libertação do jugo extremista que assolava o mundo. A Europa encontra-se à sombra da ascensão russa e do comunismo de Estaline, fortemente mergulhada na miséria, desprovida de rumo e de alicerces que sustentem a possibilidade de um futuro. Nos arredores de Estalinegrado, entre as planícies do Volga, inóspito e desolado, ergue-se um campo de prisioneiros de guerra. Na sua maioria antigos soldados e civis alemães, estes homens lutam pela sua mera existência num cenário de decadência. A fome e a doença sugam a alma até à última gota de esperança. O regresso à pátria é apenas um sonho impossível enterrado no inconsciente que provoca mais dor que alegria. Mas, no meio do desespero, existe ainda uma fonte de força, um rasgo de luz na escuridão que dá alento aos mais infortunados . Entre os prisioneiros encontram-se antigos médicos e enfermeiros que, por força das circunstâncias, permanecem no exercício da sua arte que torna o padecimento mais suportável. Em condições extremamente precárias, o desejo de ajudar é tanto um acto de coragem como de loucura. O dever, contudo, fala mais alto que tudo o resto, dever esse que poderá ser um preço demasiado elevado a pagar.
Narrado na perspectiva de um dos médicos alemães e simultaneamente na perspectiva global do autor, o livro oferece um retrato fiel e credível da experiência dos prisioneiros. Do início ao fim, a acção decorre no seu cativeiro dando por vezes uma sensação de alheamento da realidade. Ali, só é permitido viver meia vida. Este aspecto foi, a meu ver, o melhor da obra.
Outro factor positivo que merece consideração é a elaboração das personagens. Intencional ou não, verifica-se uma grande homogeneidade entre as mesmas. Apesar da animosidade entre russos e alemães, o pesar é transversal a todos eles, vítimas da engrenagem política e dos tempos cruéis que atravessam. Como tal, nenhum dos intervenientes é especialmente aprofundado ao ponto de se destacar dos outros, o que imprime uma certa falta de substância neste campo da trama. É isso que, na verdade, sublinha o vazio das personagens, desprovidas de um propósito adicional à simples perpetuação da sua existência. Ainda assim, próximo da conclusão da leitura, emerge o acontecimento que representa o ponto mais alto desta história e que faz de uma destas figuras um exemplo de carácter indiscutivelmente louvável.
Relativamente ao estilo de Konsalik, este é marcadamente descritivo, atento aos detalhes da envolvente. O foco da acção conquanto não se perde, proporcionando uma leitura fluída e insinuante. A temática aqui abordada é um forte argumento para manter o interesse em toda a extensão da obra que rapidamente se dá por terminada.
O Médico de Estalinegrado é, sobretudo, um olhar sobre a experiência avassaladora da solidão protagonizada por indivíduos cuja identidade se perdeu na própria memória. As condições miseráveis a que são submetidos são descritas sem refreios, numa narrativa pungente que, infelizmente, se aproxima com grande exactidão da realidade vivida no pós-guerra. Pela escrita cativante e por toda a humanidade a que apela, este é um livro que merece ser lido.
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