Autor: Miguel Quintas
Nº de páginas: 268
Editora: Publicações Europa-América
Colecção: Contemporânea
Sinopse
«A mesma mulher… duas vozes separadas por cinquenta anos. Pelo meio, um mistério. Um passado que recusa fazer as pazes com o presente. Um presente que ignora o passado. E um diário que parece ser o único elemento reconciliador de toda uma vida.
Através das páginas do seu diário, acompanhe Grace, uma mulher a quem a vida parece não sorrir. Mas que tudo ultrapassa com resiliência, recorrendo ao refúgio nas pequenas coisas e encontrando alguma serenidade nas linhas com as quais vai preenchendo o seu muito atribulado diário.
Passado entre uma pequena cidade norte-americana nos finais dos anos sessenta do século XX, numa Barcelona em finais do período franquista e na actualidade em parte incerta, Para Lá da Janela é uma lição de vida para todos aqueles, mulheres e homens, que vão avançando no meio das maiores adversidades.»
Opinião
Perceber quem somos é um factor crucial para estar na vida com serenidade e plenitude. Este processo, tanto mais moroso quanto maior a complexidade do ser e da sua história, pode levar toda uma existência a concretizar-se ou, no limite, não se concretizar de todo. A verdade é que a identidade tem contornos dinâmicos que talvez nunca se definam na sua constante transformação. Porém, o núcleo da identidade, a essência de tudo, não pode jamais ser um vazio tumultuoso que hesita na incerteza. Daí resulta um imenso desconforto que rapidamente culmina em infelicidade e, eventualmente, num véu de sombra permanente, impenetrável até ao mais forte raio de luz.
Grace é a personagem que se apresenta neste romance e nos dá a conhecer a sua vida (ou parte dela) ao longo das palavras escritas no seu diário. Num registo que flutua à margem do tempo, encontramos uma Grace jovem constantemente insatisfeita na sua inocência e outra Grace já adulta e confusa que tenta reencontrar-se com o passado. Esta mulher ambiciona algo simples, porém difícil: saber quem verdadeiramente é. Nesta indagação, Grace é confrontada com situações com as quais nunca imaginou. À medida que os factos surgem, ela mesma submerge na dúvida, perdendo pouco a pouco qualquer certeza que nela habitava. Somente nas páginas que preenche com a sua mágoa encontra algum alento e a esperança de um dia conhecer a verdade por detrás da mentira.
A construção da prosa assenta na alternância entre os períodos da história de Grace, constituindo um elemento fundamental da narrativa. Através desta ferramenta, habilmente explorada, o autor consegue manter o mistério envolvente até às últimas revelações e, consequentemente, aprisionar o leitor com as suas questões. Adicionalmente, os capítulos breves e a voz simples mas profunda da protagonista contribuem para uma leitura ágil e concisa que se traduz numa experiência muito íntima.
Este livro debruça-se sobre a fragilidade humana, demonstrando que a tristeza resultante de sofrer em silêncio é avassaladora, em especial na perspectiva feminina em circunstâncias tão presentes na actualidade como no passado. O foco na mulher é também uma homenagem à sua figura com todo o seu merecido e grandioso valor que, por vezes, não é reconhecido pelo homem como seu igual.
Relativamente ao final da obra, este é sem dúvida o auge da narrativa e em simultâneo o momento de maior perplexidade para o leitor. Inicialmente gerando alguma confusão, é o embate que não se aguardava mas que justifica o fio condutor da acção. Os detalhes importantes revelam-se subtilmente, encontrando-se por fim um sentido nas palavras gravadas por Grace.
Para Lá da Janela mostra como a personalidade pode ser moldada pelos eventos mais atrozes, enaltecendo as dificuldades que existem em ultrapassar os receios mais profundos para encontrar um caminho digno num mundo perverso. Com uma estrutura narrativa peculiar baseada na personagem de Grace e no tormento que a percorre, este romance é uma agradável surpresa que, ao olhar as desventuras da vida, faz sobressair as lições que daí resultam.
Perceber quem somos é um factor crucial para estar na vida com serenidade e plenitude. Este processo, tanto mais moroso quanto maior a complexidade do ser e da sua história, pode levar toda uma existência a concretizar-se ou, no limite, não se concretizar de todo. A verdade é que a identidade tem contornos dinâmicos que talvez nunca se definam na sua constante transformação. Porém, o núcleo da identidade, a essência de tudo, não pode jamais ser um vazio tumultuoso que hesita na incerteza. Daí resulta um imenso desconforto que rapidamente culmina em infelicidade e, eventualmente, num véu de sombra permanente, impenetrável até ao mais forte raio de luz.
Grace é a personagem que se apresenta neste romance e nos dá a conhecer a sua vida (ou parte dela) ao longo das palavras escritas no seu diário. Num registo que flutua à margem do tempo, encontramos uma Grace jovem constantemente insatisfeita na sua inocência e outra Grace já adulta e confusa que tenta reencontrar-se com o passado. Esta mulher ambiciona algo simples, porém difícil: saber quem verdadeiramente é. Nesta indagação, Grace é confrontada com situações com as quais nunca imaginou. À medida que os factos surgem, ela mesma submerge na dúvida, perdendo pouco a pouco qualquer certeza que nela habitava. Somente nas páginas que preenche com a sua mágoa encontra algum alento e a esperança de um dia conhecer a verdade por detrás da mentira.
A construção da prosa assenta na alternância entre os períodos da história de Grace, constituindo um elemento fundamental da narrativa. Através desta ferramenta, habilmente explorada, o autor consegue manter o mistério envolvente até às últimas revelações e, consequentemente, aprisionar o leitor com as suas questões. Adicionalmente, os capítulos breves e a voz simples mas profunda da protagonista contribuem para uma leitura ágil e concisa que se traduz numa experiência muito íntima.
Este livro debruça-se sobre a fragilidade humana, demonstrando que a tristeza resultante de sofrer em silêncio é avassaladora, em especial na perspectiva feminina em circunstâncias tão presentes na actualidade como no passado. O foco na mulher é também uma homenagem à sua figura com todo o seu merecido e grandioso valor que, por vezes, não é reconhecido pelo homem como seu igual.
Relativamente ao final da obra, este é sem dúvida o auge da narrativa e em simultâneo o momento de maior perplexidade para o leitor. Inicialmente gerando alguma confusão, é o embate que não se aguardava mas que justifica o fio condutor da acção. Os detalhes importantes revelam-se subtilmente, encontrando-se por fim um sentido nas palavras gravadas por Grace.
Para Lá da Janela mostra como a personalidade pode ser moldada pelos eventos mais atrozes, enaltecendo as dificuldades que existem em ultrapassar os receios mais profundos para encontrar um caminho digno num mundo perverso. Com uma estrutura narrativa peculiar baseada na personagem de Grace e no tormento que a percorre, este romance é uma agradável surpresa que, ao olhar as desventuras da vida, faz sobressair as lições que daí resultam.
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