Caro Evan Hansen



Título original: Dear Evan Hansen - The Novel
Autores: Val Emmich, Justin Paul, Benj Pasek e Steven Levenson
Nº de páginas: 384
Editora: Editorial Presença
Colecção: Jovem Adulto

Sinopse
«Quando uma carta que ninguém deveria ter visto, aproxima Evan Hansen de uma família em sofrimento pela perda de um filho, ele depara-se com a oportunidade de uma vida: o desfrutar do sentimento de pertença. Ele tem apenas de fingir que Connor Murphy, um rapaz manifestamente perturbado que frequentava a mesma escola, era o seu grande amigo secreto.
De um momento para o outro, Evan deixa de ser invisível - até mesmo para a rapariga dos seus sonhos. E os pais de Connor acolhem-no como se Evan lhes pertencesse, desesperados para, através dele, saberem mais sobre a existência enigmática do seu recém-falecido filho. À medida que Evan se embrenha na espiral de revolta, arrependimento e confusão da família Murphy, ele tem consciência de que o que está a fazer é errado. Mas se está a ajudá-los, o que terá isso de errado?
Agora que deixou de ser atormentado pela ansiedade causada pelo desapontamento nos olhos da sua mãe, este novo Evan encontrou um objetivo. E também confiança. Cada dia da sua vida é surpreendente. Até que surge o risco de tudo vir a ser desvendado e Evan confronta-se com um obstáculo: ele próprio.
Uma pequena mentira leva a verdades complexas nesta emocionante narrativa sobre sofrimento, autenticidade, e capacidade de luta para usufruir do sentimento de pertença numa idade de ligações efémeras e isolamento profundo.»

Opinião
Caro Evan Hansen, hoje vai ser um dia fantástico, e eis porquê. Esta é a forma como Evan Hansen se apresenta nas suas cartas e simultaneamente o diálogo inicial do musical homónimo da Broadway: uma tentativa honesta de positivismo que emerge de uma mente naturalmente pessimista. Evan Hansen poderia ser um adolescente normal, não fosse a sua ansiedade um entrave constante nos seus dias. Habituado à indiferença e à solidão, para Evan qualquer situação fora do comum é um complexo quebra-cabeças de emoções. Até que, inesperadamente, se vê no meio da invenção de uma mentira que, ironicamente, parece ser a solução para os seus problemas. Infelizmente, descobre que essa mentira poderá tornar-se na derradeira tragédia da sua vida.

Narrado sob a perspectiva de Evan, este romance consegue ilustrar na perfeição a luta diária de quem é afectado por distúrbios de ansiedade. A saúde mental é precariamente valorizada na maioria dos casos em que está comprometida, razão pela qual existe um grande desconhecimento da sua prevalência. O estigma é ainda uma realidade. A vergonha impede a abertura e a frontalidade. Numa época em que as pessoas estão imensamente ligadas umas às outras, é verdadeiramente uma infelicidade que a ansiedade impeça alguém de ser feliz. Por isso, é importante falar. Mais importante ainda, ouvir. Os apelos podem ser silenciosos e é necessário aprender a escutá-los antes que seja demasiado tarde. Afinal, mesmo que não seja claro, tudo tem uma solução.

A personagem de Evan é justamente o centro do livro que se desenvolve de acordo com o tumulto emocional do protagonista. A insegurança, a impotência e a tristeza são constantes sentimentos que determinam a inacção, bem como despoletam uma fonte interminável de pensamentos negativos que impedem qualquer hipótese de plenitude. Cativante e complexo, Evan prende o leitor no seu raciocínio desenfreado inconsequente, construindo um quadro de desajuste social marcado. Esta figura expõe-se crua e íntegra, na sua ingenuidade e pureza, o que é tanto belo quanto doloroso. O seu percurso, porém, modifica-se e evolui, provando que a transformação é possível se houver coragem para decidir. Relativamente às restantes personagens, gostaria de ter observado um pouco mais de ênfase nas mesmas, nomeadamente Connor Murphy, Zoe ou ainda Heidi, a mãe de Evan Hansen. Todas elas são interessantes e um contributo relevante mesmo em segundo plano, prezando o outro lado da história. Desta forma, considero que teria sido benéfico dar algum do espaço ocupado por Evan à personagem de Connor Murphy pois também este dá voz a alguns capítulos e a sua presença é essencial em todo o livro tendo em conta a problemática subjacente.

Para além da ansiedade, outras temáticas de grande impacto são aqui abordadas: homossexualidade, suicídio e toxicodependência. Também estes aspectos são pouco explorados apesar da sua premência na obra. Tendo em conta o público-alvo da mesma, teria sido vantajoso de um ponto de vista pedagógico apostar mais nestes assuntos de grande complexidade e que carecem de desmistificação entre as camadas mais jovens. Ainda assim, a sua referência é inquestionavelmente apropriada e permite gerar as questões fundamentais com que tantos indivíduos presentemente se debatem, induzindo assim à reflexão que é indispensável.

Com uma prosa simplista de fácil leitura, não obstante carregada de significado e força emocional, este livro alcança uma boa consistência. Conseguindo manter uma ligação permanente entre o narrador e o leitor, a mensagem é transmitida de forma certeira e concisa. A narração autodiegética torna esta uma experiência muito íntima, apelando à sensibilidade como ferramenta para a compreensão da esfera do protagonista. A empatia com o mesmo é, portanto, espontânea, o que se traduz na qualidade mais especial desta obra.

Partindo de um musical que adorei, foi com muito entusiasmo que comprovei que o romance é igualmente maravilhoso. Evan personifica um desafio pessoal imenso que é levado até ao fim, surpreendendo não só com a sua inocência mas também com a luta que gradualmente edifica. Aconselho vivamente esta leitura comovente que, acompanhada da banda sonora, se torna ainda mais pungente. Relembrem-se: Ergue a cabeça e olha em volta. Serás encontrado.

Comentários

  1. Bem... se o livro for tão bom quanto a sinopse... temos obra de 5 estrelas!

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    1. Foi uma experiência incrível, Marisa! Boas leituras!

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