Guerra e Paz - Livro I

Título original: Война и миръ

Autor: Lev Tolstói

Nº de páginas: 400

Editora: Editorial Presença

Colecção: Obras Primas da Literatura

Sinopse

«Guerra e Paz é um verdadeiro monumento da literatura universal. Tolstói descreve as guerras movidas por Napoleão contra as principais monarquias da Europa, dissecando as origens e as consequências dos conflitos e, principalmente, expondo as pessoas e as suas vulnerabilidades com uma aguda perceção psicológica. O enredo deste romance cobre toda a campanha de Napoleão na Áustria, a invasão da Rússia pelo exército francês e a sua retirada, entre 1805 e 1820. Neste quadro épico movem-se mais de 550 personagens, além dos elementos das famílias aristocráticas principais, Tolstói criou um retrato realista e incisivo da sociedade russa de inícios do século XIX, denunciando o preconceito e a hipocrisia da nobreza, ao lado da miséria dos soldados e servos. Este romance presta-se ainda a expor as ideias do autor sobre o sentido da vida e a desenvolver as suas reflexões filosóficas em favor de uma sociedade mais justa e fraterna. O legado literário de Tolstói figura a par do de outros grandes escritores russos do século XIX entre os quais se destacam Dostoiévski, Pushkin, Turgueniev e Tchekov.»

Opinião

Guerra e Paz é um livro colossal. Embarcar nesta leitura é uma aventura ambiciosa que, compreensivelmente, não seja aliciante para a maioria. Com o peso do nome e da literatura agregado às mais de mil e seiscentas páginas que compõem esta edição, espera-se algo marcante porém difícil e assustador. Se inicialmente é este o estado de espírito, gradualmente tal ideia se dissolve perante o deslumbramento que Tolstói provoca com a sua obra-prima.

O início da viagem marca presença nos belos salões onde convivem as mais ilustres e singulares figuras da nobreza russa nos primórdios do século XIX. Entre São Petersburgo e Moscovo, move-se um conjunto amplo de personagens que partilham ligações mais ou menos substanciais entre si. Apresentam-se três núcleos familiares, os Kuráguin, Rostov e Bolkônski, de onde emergem os principais intervenientes que dão voz à trama. Cada qual possui as suas vivências, apropriando-se do seu momento e sustentando-se com robustez e carácter. Sem existir alguém que claramente sobressaia, é no panorama colectivo que reside a força que permite alcançar uma harmonia perfeita entre eles.

Por sua vez, o retrato aristocrático alterna-se com a questão bélica e política numa agilidade exímia, imiscuindo-se subtilmente um aspecto no outro. O contexto histórico catapulta o leitor para a invasão austríaca pelos franceses a que a Rússia responde em auxílio da sua aliada Áustria. Na campanha notabiliza-se a imponência do Império Russo, dignificado através do seu imperador magnânimo e da excelência do seu exército. Porém, não são o optimismo e o orgulho que vencem batalhas, mas sim os homens convertidos em soldados, estrategos, comandantes e chefes que, munidos da sua coragem e astúcia, avançam com todo o seu ser em direcção à linha inimiga. Os movimentos das tropas descrevem-se com rigor e detalhe, espelhando a realidade do passado numa proximidade tal da verdade que impressiona. São estas as passagens que arrebatam e deixam a sua marca (em concreto a relativa à Batalha de Austerlitz), mais que as intrigas nutridas pela mesquinhez e pela ganância.

Rapidamente fica esclarecido que a grande qualidade de Tolstói é a sua capacidade narrativa. Independentemente da situação e do cenário respectivo, a prosa inteira-se de uma riqueza espantosa sem ceder ao exagero. Completando tanto as personagens como a acção com detalhes pertinentes e fulgorosos, eleva a experiência da leitura ao mais alto patamar. Por consequência, é uma escrita que para ser efectivamente apreciada exige tempo e atenção, sendo esta a única forma de absorver a essência desta obra.

Como parte introdutória, este primeiro volume foi além das expectativas. As personagens elaboradas com profundidade combinadas com a escrita sublime assinalam o ponto de partida memorável deste livro grandioso. Ao compor o esquema geral através do qual é possível antever os vários assuntos destinados aos próximos capítulos, infere-se que este começo brilhante de Guerra e Paz apenas poderá dar lugar a algo ainda melhor no futuro.