Título original: Foundation
Autor: Isaac Asimov
Nº de páginas: 288
Editora: Saída de Emergência
Colecção: Bang!
Sinopse
«Há muitos milhares de anos que o Império Galáctico reina absoluto sobre todos os mundos habitados. Mas agora está em decadência.
Apenas Hari Seldon, o criador de uma nova e revolucionária ciência, prevê a inevitável chegada de uma era de trevas jamais vista. Para preservar o conhecimento e salvar a Humanidade, Seldon reúne os melhores cientistas e eruditos do império num planeta sombrio para servirem de guia e darem esperança às futuras gerações. Dá a este santuário o nome de Fundação.
Mas a jovem Fundação rapidamente fica à mercê dos corruptos senhores da guerra que se erguem do decadente império. E esta última esperança da Humanidade tem de enfrentar uma escolha dolorosa: submeter-se aos bárbaros e viver em escravatura ou lutar pela liberdade e arriscar a destruição total.»
Opinião
Ficção científica não é a minha predilecção. Contudo, perante uma obra que é uma referência do género, resolvi apostar em Fundação, primeiro livro da aclamada trilogia de Isaac Asimov. Com efeito, corroborei que Fundação faz jus à fama que possui. Não poderia ter alcançado um maior estado de perplexidade e contentamento ao terminar esta leitura revigorante.
No primeiro momento, o leitor é transportado para um mundo diferente, marcadamente futurista com laivos de artificialidade. Após causar uma impressão de fascínio, depressa se perde essa sensação de diferença devido à naturalidade com que o texto avança e à familiaridade que aos poucos se instala. Do mesmo modo, depreende-se rapidamente que esta história vai muito para além do seu conceito estético à medida que as personagens surgem num adensar crescente da trama.
Num frenesim constante difícil de acompanhar, as personagens dão lugar umas às outras em existências breves. Porém, algumas deixam um legado que é indelével e crucial para os seus sucessores. É o caso evidente de Hari Seldon, Salvor Hardin e Hober Mallow que, colocados em diferentes instantes na linha cronológica, assumem as rédeas e marcam de forma incontornável o percurso do Império Galático. Nas idiossincrasias correspondentes, preenchem o enredo de significado ao permitir o seu avanço por caminhos surpreendentes em direcção a um destino que, apesar de tudo, é previsível. Este constitui o engenho mais belo desta obra.
Como seria de esperar, a ciência é o aspecto mais importante aqui retratado. Porém, os moldes com que se reveste tornam-na num recurso genial. Ao prevalecer como a solução derradeira para o problema do império em declínio, a ciência transmuta-se em religião, depois em economia, num jogo representativo do poder que lhe é inerente e que assume sempre o mesmo objectivo: controlo e inovação. Assim, esta história revela-se auspiciosamente como um produto de contornos políticos executado com perícia, culminando num resultado que, para além de lógico, é brilhante. Nas sábias palavras de Salvor Hardin, a violência é o último refúgio dos incompetentes.
A estrutura narrativa é outro dos pontos a enaltecer. As sequências curtas que se encadeiam uma após a outra consentem uma evolução temporal impetuosa dos acontecimentos, quase com uma ânsia do futuro que se aproxima. Há uma mística subjacente que explora o sentido da predestinação e da necessidade de complacência com o fluxo natural das coisas, embora isso só seja possível porque se tem a consciência de que essa é a única e correcta alternativa. A ligação é assim estabelecida entre os capítulos que apresentam diferentes perspectivas da mesma questão, conduzindo a acção para um desfecho que é somente o início do grande plano projectado para o renascimento do império.
Asimov consegue, portanto, um exemplar começo de trilogia. Com densidade e ambição, Fundação é um livro que facilmente cativa o leitor. As múltiplas personagens revezam-se na sua respectiva relevância no quadro comum, movendo as peças de um tabuleiro esculpido segundo estritas regras que apenas permitem lances limitados ao arbítrio de forças superiores e incontestáveis. Apesar disso, é fundamental agir perante a estagnação e lutar pela mudança que urge acontecer. Certamente, uma das maiores surpresas literárias que experienciei.
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