Segunda Fundação


Título original: Second Foundation
Autor: Isaac Asimov
Nº de páginas: 272
Editora: Saída de Emergência
Colecção: Bang!

Sinopse
«Depois de anos de conflito, a Fundação está em ruínas – destruída pelo poder mental do Mula, o mutante cuja existência Hari Seldon não conseguiu prever. Mas há rumores de que, algures nos confins da Galáxia, existe uma Segunda Fundação, criada para preservar o conhecimento da Humanidade durante os séculos de barbárie. O Mula não a conseguiu encontrar da primeira vez, mas agora está certo da sua localização.
O destino da Fundação reside na jovem Arcadia Darell, com apenas catorze anos, e a braços com um terrível segredo. Enquanto os cientistas se preparam para um confronto final com o Mula, os sobreviventes da Primeira Fundação dão início a uma busca desesperada. Também eles querem que a Segunda Fundação seja destruída… mas por razões completamente diferentes.»

Opinião
A Fundação enfrenta agora a sua ameaça mais real e perigosa. O poder do Mula debilita a fé previamente alicerçada pelo Plano, contestando a missão intrincadamente erigida por Seldon. Se a força do Mula é incontestável, é também verdade que outras forças misteriosas se expressam com subtileza. A atmosfera adensa-se, os factos gradualmente revelam-se e a questão primordial que sublinha a Fundação como instrumento para alcançar o Segundo Império permanece. É, contudo, entre os mais astutos que outra questão prevalece: estará a Primeira Fundação a lidar com outro inimigo mais poderoso que se mantém na sombra?

Enquanto os volumes anteriores mantiveram o foco na Primeira Fundação, nesta terceira parte o título é suficientemente esclarecedor. Pairam as dúvidas: onde se encontra a Segunda Fundação? Quem a constitui? Qual o seu verdadeiro propósito? Pouco a pouco, são deixadas pistas que, ainda assim, são débeis. A demanda pela verdade progride, paralelamente aos conflitos políticos cada vez mais decisivos na construção do futuro. A Galáxia expande-se ao travar conhecimento com mais mundos e as suas respectivas personagens, peças fugazes mas essenciais na máquina que ruma em direcção ao conhecimento.

É com a progressão dos capítulos que se apreende a dimensão gigantesca desta obra, cujo nível de detalhe vai muito para além daquilo que se pode imaginar. Cada camada de informação destrona a anterior em robustez e acuidade, numa hierarquia que se auto-sustenta em incessante crescimento. Por outras palavras, desengane-se quem achar que a última revelação foi a mais importante e surpreendente pois algo virá para se lhe sobrepor. Este foi o aspecto que, a meu ver, mais qualidade ofereceu ao livro e que, em certa medida, o distingue dos anteriores.

Depois, a introdução e exploração da temática da mente em confronto com as ciências físicas já habituais promove uma nova perspectiva com múltiplas potencialidades. Assumindo aqui uma posição bastante concreta como elemento fulcral da história, esta aposta resulta e catapulta o grau de exigência solicitado ao leitor na compreensão da sua influência nos acontecimentos presentes e passados. É curioso observar que, numa obra de ficção científica, a mente como factor isolado tenha tanto peso, sobretudo atendendo à época da sua publicação quando a mente e as suas propriedades mal passavam de uma incógnita. Asimov acertou em cheio ao entrelaçar ciência e mente como conceitos interdependentes, tirando o máximo proveito desta relação mútua num resultado que tem tanto de original como de brilhante.

Já as personagens, desta vez com maior permanência e destaque, voltam a estar ao serviço da narrativa. Em última análise, dividem-se em dois grupos distintos com cada um a representar um lado da trama, incompatível com o outro. Se uns lutam pelo progresso, outros combatem-no com ferocidade. É, contudo, interessante constatar que, se por um lado é permitido um maior desenvolvimento das personagens, por outro a sua definição é menos clara. Isto porque as suas acções, por vezes, não transparecem os seus motivos e a sua natureza apenas se revela mais tarde.

A escrita inteligente e cativante de Asimov é um dos seus maiores trunfos, atribuindo precisão e requinte favoráveis à sua história. Neste volume final com um tom exuberantemente técnico, atreve-se a chegar mais longe no que diz respeito à complexidade. Ainda assim, mesmo para quem não estiver familiarizado com a ciência e os seus termos, a narrativa consegue ser surpreendentemente visual e fluída, portanto acessível. Na verdade, como será de esperar da ficção científica, um pouco de imaginação é essencial a qualquer leitor para que tudo, por fim, encaixe no lugar devido.

Em conclusão, Asimov faz da sua saga Fundação, encerrada assim com Segunda Fundação, um fenómeno majestoso. Superando todas as expectativas, esta imagem de uma Galáxia futurista é desenvolvida com consistência, excentricidade e primor desde o primeiro ao último momento. Mais que uma fantástica aventura pelo espaço, esta história estabelece um culto literário a não perder de vista. 

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