Imperador dos Espinhos



Título original: Emperor of Thorns
Autor: Mark Lawrence
Nº de páginas: 416
Editora: 20|20 Editora
Chancela: Topseller

Sinopse
«Um rei em busca da vingança
Com apenas vinte anos de idade, o príncipe tornou-se o Rei Jorg Ancrath, rei de sete nações, conhecido em todo o Império. Mas os planos de vingança que tem para o seu pai ainda não estão completos. Jorg tem de conseguir o impossível: tornar-se imperador.
Um império sem imperador há cem anos
Esta é uma batalha desconhecida para o jovem rei, habituado a conquistar tudo pela espada. De quatro em quatro anos, os governantes dos cem reinos fragmentados do Império Arruinado reúnem-se na capital, Vyene, para o Congresso, um período de tréguas durante o qual elegem um novo imperador. Mas há cem anos, desde a morte do último regente, que nenhum candidato consegue assegurar a maioria necessária.
Um adversário temível e desconhecido
Pelo caminho, o Rei Jorg vai enfrentar um adversário diferente de todos os outros, um necromante como o Império nunca viu, uma figura ainda mais odiada e temida do que ele: o Rei dos Mortos.»

Opinião
Em Imperador dos Espinhos, último livro da Trilogia dos Espinhos, Jorg continua a sua pretensão por vingança, agora mais forte que nunca. Numa luta frente a obstáculos tanto do mundo dos vivos como do mundo dos mortos, Jorg depara-se com dilemas estratégicos e questões existenciais enquanto tenta atingir o que deseja - ou que, pelo menos, no seu íntimo pensa que deseja. Em simultâneo, empreende a demanda por um império corrompido, inebriado pelo caos que sobre ele ameaça cair e que, provavelmente, encaminhá-lo-á para a destruição.

Tal como nos volumes anteriores, Imperador dos Espinhos vive à custa da sua personagem central. Aqui, Jorg alcança um maior nível de maturidade e de auto-consciência. Talvez quisesse apenas perceber o que desejava. Talvez crescer fosse apenas isso. Com a sua missão a adquirir mais clareza, as atitudes de Jorg tornam-se mais assertivas, porém sempre imprevisíveis e surpreendentes. A utilização da inconstância de Jorg como elemento propulsor da narrativa é o que mais enriquece a obra e o que revela a mestria do autor na manipulação do leitor. Na verdade, tendo um protagonista tão calculista e cruel, fruto de uma personalidade fortemente narcisista, Jorg dificilmente cria empatia com o leitor. Porém, naturalmente este se vê a torcer por Jorg e pelos seus feitos, o que se justifica por um lado pelo seu passado marcado pela tragédia, por outro lado pela sua voz activa na trama e que acaba por ser o motor da mesma. Não obstante, fica a vontade de descobrir mais sobre as outras personagens, nomeadamente Chella e os irmãos de estrada de Jorg, que na minha opinião continuam a ser pouco explorados perante o potencial que apresentam.

Relativamente ao conteúdo fantástico, este livro apresenta-se como o mais completo. Depois de uma introdução brilhante em Príncipe dos Espinhos e de um tom mais ligeiro em Rei dos Espinhos, Lawrence aposta na exploração do seu mundo mágico-científico - ainda que de uma forma que não satisfaz completamente. O que, de facto, daqui sobressai é a certeza de que o fantástico não é alma desta obra, antes um contexto no qual as personagens se movem e através do qual é possível elaborar um cenário apocalíptico num espaço e tempo que são, de certa forma, familiares ao leitor mas que nunca se cruza com a realidade. Este jogo de referências pode nalguns momentos parecer confuso, no entanto resulta porque cativa o leitor. De realçar a interessante temática dos Construtores e a sua relação com o universo peculiar das personagens que, caso fosse mais aprofundada, seria uma grande mais valia para a coerência da trilogia.

A narração de Lawrence continua deslumbrante e objectiva, na mesma alternância entre passado e presente que figurou nos volumes anteriores. Esta opção permite vislumbrar a evolução de Jorg e os motivos das suas decisões, bem como proporciona a explicação para alguns pontos que até aqui estavam por resolver. A pungência e a imprevisibilidade são as características que mais se destacam, a par de um ritmo constante e agitado.

É no final que o quadro se compõe, pintado com crueldade e frialdade, mas também com verdade. Uma solução inesperada, metafórica, um pouco precipitada e infundada a meu ver, mas que, como tudo indica, seria a mais adequada ao protagonista: a resolução pela redenção. Continuava a odiar aquilo, mas o custo tornava a recusa um insulto.

A Trilogia dos Espinhos culmina assim com um panorama bastante satisfatório, deixando contudo um sentimento agridoce para quem detinha grandes expectativas quanto a Imperador dos Espinhos. Triunfando graças à forte figura central e à sua evolução, este livro aproxima-se mais do leitor que os restantes e, portanto, considero que seja o melhor dos três. Em conclusão, recomendo a leitura desta saga não só aos amantes do fantástico, mas a todos os que procurem uma história diferente com um protagonista sólido e intenso.

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