O Terceiro País


Título original: The Golden Age
Autora: Joan London
Nº de páginas: 256
Editora: Editorial Bizâncio
Colecção: Montanha Mágica

Sinopse
«Uma história de resistência e de determinação sobre a irresistível e duradoura natureza do amor e a fragilidade da vida.
Frank Gold, um refugiado de guerra vindo da Hungria para a Austrália, é apanhado pelo surto de poliomielite que atingiu aquele país em 1954. 
Como tantas outras crianças é acolhido na casa de recuperação Golden Age. 
É aí que encontra Sullivan, que lhe revela a poesia, e mais tarde Elsa. 
Resiste ao abandono e ao isolamento daquele lugar através da poesia e do laço de paixão que o liga a Elsa. 
Nesta casa parada no tempo, as crianças estão sujeitas a regras próprias que fazem de Golden Age um outro país, um terceiro país, onde todos descobrem que estão sós, numa luta de recuperação muito própria.»

Opinião
Durante tempos difíceis surge sempre um rasgo de esperança que permite suportar as maiores atrocidades. Porém, é quando a paz se instala que tem início a verdadeira guerra: a instabilidade emocional na tentativa de encontrar o que anteriormente lá existia. É quando se encontra um espírito quebrado, impossível de recuperar, que se torna evidente que a aceitação é o único caminho possível para superar essa perda e reconstruir a individualidade aos olhos de uma nova realidade.

Frank, Ida e Meyer Gold são uma família húngara sobrevivente da Segunda Guerra Mundial que procura na Austrália um novo lar. Após o conflito que os forçou a viver vidas separadas surge a oportunidade de começar de novo, para lá da Europa devastada e dos horrores do passado. Infelizmente, Frank e, por sua vez, toda a família são confrontados novamente com o infortúnio. Frank é atingido pela poliomielite, frustrando as perspectivas de um futuro que se adivinhava promissor. É então que surge o Golden Age, um lar de recuperação, onde Frank, pouco a pouco, se reencontra com a alegria e com o amor, renascendo no seu ser. O Golden Age é um espaço que cruza vidas distintas, porém tão semelhantes nos seus percursos que se poderia dizer que o destino se atreveu a juntá-las.

É-nos apresentado um conjunto de personagens que interagem num espaço e tempo muito próprios, encontrando-se todas elas intimamente relacionadas. Frank, o rapaz que, apesar de enfraquecido e debilitado pela sua condição, é uma força enorme que contagia todos à sua volta. A poesia torna-se o seu aliado pessoal na luta pela plenitude, oferecendo um sentido renovado à sua existência. É também em Elsa que Frank encontra motivos para subsistir. Elsa, cuja luz se desvaneceu pela mácula da enfermidade, recupera o seu doce sorriso perante a inocência da paixão. A beleza instala-se mais uma vez nos seus corações, na certeza de que a brevidade dos momentos pode ser por vezes suficiente. Ida, Meyer e Penny são outras figuras que atraem a atenção, sendo testemunhos de resiliência e coragem.

Numa prosa fragmentada e alternada, London retrata as vivências das suas personagens com foco no seu passado e presente. Num tom cru, simples e poético, os seus percursos desvendam-se e rompem gradualmente a bolha de mistério que as envolve desde o início. Com uma narração vívida, fortemente sensorial e visual, a leitura é uma experiência orgânica que se desenvolve com facilidade, apelando ao lado mais sensível e humano que em nós existe.

Mais que a história de Frank e dos Gold, O Terceiro País é uma reflexão conjunta dessas pessoas que encontram na doença um propósito comum e com ela aprendem a desbravar um novo sentido para a vida. London é uma autora com sensibilidade e magnífica capacidade narrativa que aqui oferece várias razões para mergulhar neste relato emotivo e por ele se deixar surpreender.

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